O Arquivo Edgard Leuenroth Centro de Pesquisa e Documentação Social (AEL) iniciou suas atividades em 1974 com a chegada da coleção de documentos impressos reunidos por Edgard Leuenroth (1881-1968), jornalista e militante anarquista. Tais fontes foram adquiridas a época pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com o intuito de constituir um centro de documentação que possibilitasse acesso às fontes primárias necessárias aos trabalhos do então recém-criado programa de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Ao longo de sua história, o AEL vem cumprindo seus objetivos de atender a demanda acadêmica e preservar registros históricos da sociedade. Além do acervo que o originou, recebeu outros tantos ligados à história social, política e cultural do Brasil e da América Latina.
Antônio Batista Ribas nasceu em 18 de dezembro de 1904, na Fazenda Estância Nova, município de Palmas, estado do Paraná, filho de Rutílio de Sá Ribas e Julia Baptista Ribas. Iniciou seus estudos na escola pública da cidade, indo posteriormente para o Seminário Ginásio Diocesano, em Curitiba, e depois para o Ginásio Paranaense. Graduou-se pela Escola de Engenharia do Paraná em 1928, ano em que iniciou sua carreira no serviço público do Estado. Ao longo de quatro décadas, trabalhou no governo estadual como engenheiro e administrador. Sua atuação mais evidente foi no Departamento de Geografia, Terras e Colonização, onde chefiou a abertura de estradas, reorganizou os serviços de povoamento das terras públicas, elaborou novos mapas para o estado do Paraná e seus municípios e estabeleceu a nova divisão administrativa do Estado com estudos para a divisão dos municípios da faixa de fronteira. Pecuarista e empresário, dedicou-se às melhorias do rebanho bovino em seu estado e foi um dos criadores e primeiro presidente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos. Na mesma época, organizou a Cooperativa dos Criadores do Paraná Ltda., tendo cooperado com a Prefeitura Municipal de Curitiba no abastecimento de carne na capital. Em 1958, foi agraciado com o grau de Comendador pelo Governo da República do Paraguai, por serviços executados na Construção da Estrada de Porto Franco a Assunção, como Diretor da Firma Th. Marinho de Andrade Construtora Paraná S/A. Recebeu ainda dois títulos de Benemerência Pública, um por serviços prestados ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), e outro do IBGE.
Abdullah Abdurahman nasceu em Wellington, África do Sul, no dia 18 de dezembro de 1972. Após frequentar o Marist Brothers College e o South African College (atual Universidade da Cidade do Cabo), viajou para a Escócia em 1888, onde se graduou em Medicina pela Universidade de Glasgow, em 1893. Retornou à África do Sul em 1895 com sua primeira esposa, Helen Potter James, com quem teve 3 filhos, entre os quais Zainunnisa "Cissie" Gool. Entrou para a vida pública em 1904, quando foi o primeiro cidadão "coloured" eleito para o Conselho da Cidade do Cabo. Como conselheiro, trabalhou para melhorar as condições da comunidade Cape Colored, especialmente na área da educação, criando as primeiras escolas secundárias voltadas para essa população. Em 1903, ingressou na African Political Organization, posteriormente African People's Organization (APO), primeira organização política significativa dos "coloured", fundada na Cidade do Cabo em 1902. Foi como presidente da APO (a partir de 1905 até sua morte) que Abdurahman deu sua contribuição política mais importante. Sob sua liderança, a APO cresceu substancialmente em número de membros, dominando a política de protesto e coordenando amplos esforços para garantir direitos políticos e melhorar as condições socioeconômicas da comunidade Cape Colored. Abdurahman também foi o primeiro cidadão "coloured" a ser eleito para o Conselho da Província do Cabo em 1914, outro cargo que ocupou até sua morte. Nessa esfera de atuação, também procurou influenciar políticas públicas de saúde e educação, embora sua influência tenha sido menor. Em 1925, casou-se novamente com Margaret May Stansfield, com quem teve mais um filho e duas filhas. Participou do South African Indian Congress, em 1925. Foi membro da Coloured Peoples’s Fact-finding Commission e da Cape Coloured Commission, em 1937. Morreu em 02 de fevereiro de 1940.
O Partido Comunista Brasileiro, cujo nome de fundação é Partido Comunista do Brasil, foi fundado em Niterói a 25 de março de 1922. De âmbito nacional teve como objetivo principal promover no Brasil uma revolução proletária que substituísse a sociedade capitalista pela sociedade socialista. Em junho daquele mesmo ano foi colocado na ilegalidade, condição em que passaria a maior parte de sua existência. Na década de 1930, o PCB conseguiu ampliar seus apoiadores, realizou sua I Conferência Nacional e contou com a filiação de Luiz Carlos Prestes no ano de 1934. No ano seguinte, o PCB formou a Aliança Nacional Libertadora (ANL) - uma ampla frente antifascista que tinha a participação de socialistas, comunistas, católicos e democratas, responsável pela publicação do jornal “A Manhã”. Após a derrota da revolta armada de 1935 - também chamada de Intentona Comunista - os partidos de oposição passaram a sofrer forte repressão, o que só melhorou com a redemocratização em 1945. Dois depois, o partido voltou a atuar na ilegalidade e, em 1950, lançou o Manifesto de agosto, que foi assinado por Prestes e propunha a formação de uma frente democrática de libertação nacional. Depois de problemas internos, o partido passou por uma reestruturação e procurou ampliar sua atuação, principalmente no movimento sindical e estudantil. Com a instalação da ditadura militar a partir de 1964, líderes e dirigentes do PCB foram presos: Gregório Bezerra, Carlos Marighella, Mário Alves, Ivan Ribeiro, Leivas Otero, entre outros. Prestes também passou a sofrer duras críticas e instituiu-se uma tendência contrária à sua atuação como secretário-geral, que culminou na expulsão e formação de várias dissidências, tais como: Ação Libertadora Nacional (ALN), Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Partido Operário Comunista (POC) e Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). O PCB sofreu dura repressão durante a ditadura, precisou parar de publicar seu jornal “A voz operária”, além de ter vários militantes presos ou mortos. Somente em 1979, com a Lei de Anistia, é que foi possível o retorno de dirigentes e militantes ao Brasil. Em 1980, Prestes foi destituído do cargo de secretário-geral, que passou para Giocondo Dias e lançou um novo jornal, “Voz da Unidade”. Na década de 1980, o partido também perdeu importantes intelectuais para o Partido dos Trabalhadores (PT), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e Partido Democrático Trabalhista (PDT). No VIII Congresso do PCB, Salomão Malina e Roberto Freire foram eleitos respectivamente presidente e vice-presidente. Em 1992, após novas crises internas, surgiu o Partido Popular Socialista (PPS), que deveria ser um herdeiro do PCB. Alguns militantes se organizaram e mantiveram o PCB atuando até os dias de hoje.
Sérgio Pereira da Silva Porto nasceu em 19 de janeiro de 1926, em Niterói, Rio de Janeiro. Bacharelou-se em química no ano de 1946 e licenciou-se na mesma área no ano seguinte. Em 1954 obteve seu título de PhD na Johns Hopkins University, em Baltimore, com a tese “Infrared Spectrum of Molecular Hydrogen”. Entre 1954 e 1960 Sérgio Porto deu aula de física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) até começar seus trabalhos com raio laser no Bell Laboratories, em New Jersey nos Estados Unidos no começo de 1960, sendo um dos pioneiros nos estudos do raio na medicina, e ainda lá, junto de seus colegas, um dos primeiros a fazer uso efetivo de lasers para a espectroscopia Raman (quando foi criada a Notação de Porto, uma forma de apontar a configuração de uma experiência que se utiliza do método Raman). Em 1967 deixou o laboratório para dar aulas de física e engenharia elétrica na University of Southern California, onde ficou até 1974, quando voltou para o Brasil e fundou o Departamento de Eletrônica Quântica (DEQ) na UNICAMP. Aqui realizou experiências com laser em cirurgias de oftalmologia, sendo as primeiras em Campinas para o tratamento de glaucoma. Sérgio Porto trabalhou, também, com oftalmologistas do Instituto Penido Burnier onde mais de 1 mil pacientes com retinopatias diabéticas foram tratados, segundo o Jornal do Brasil. Ainda segundo o periódico Sérgio Porto teria orientado 16 teses de doutoramento, apresentado 60 trabalhos científicos e acumulado 133 publicações científicas. Sérgio Porto era conhecido por sua risada e pelo entusiasmo em suas pesquisas e faleceu por um acidente cardíaco em 19 de junho de 1979 enquanto jogava uma partida de futebol no intervalo da 6ª Vavilov Conference on Coherent and non Lineas/optics, em Novisibirsk, na então União Soviética. Sua perda foi lamentada por diversos nomes da ciência brasileira, como César Lattes e Newton Bernardes. Zeferino Vaz, que convidou Sérgio Porto para voltar ao Brasil quando este ainda estava nos Estados Unidos, disse: “quando o convidei para a Unicamp, era chefe do Departamento de Eletrônica Quântica da Universidade de Southern California e participava na NASA na construção do laser que a Apolo 12 deixou na lua” (fala retirada da reportagem do Jornal do Brasil). Sérgio Porto apareceu em 15º lugar na lista O Brasileiro do Século da revista Istoé, junto com nomes como Oswaldo Cruz, Santos Dumont e Paulo Freire.
Michael Beaumont Wrigley nasceu no dia 4 de setembro de 1953, em Leeds, Londres. Iniciou sua graduação em Matemática, na University College, na Grã-Bretanha. Ingressou já no segundo ano em Filsofia e bacharelou-se pela University of Kent at Canterbury, na Grã-Bretanha, em 1978. Nesse mesmo ano, ingressou no programa de Filosofia da Universidade de Oxford e iniciou suas pesquisas sobre a filosofia de Wittgenstein, particularmente sobre a filosofia da matemática de Wittgenstein. Sua dissertação de mestrado intitulou-se: Alguns aspectos da filosofia da matemática de Wittgenstein (Some aspects of Witgenstein's Philosophy of Mathematics). Inscreveu-se no programa de doutorado da Universidade da Califórnia, em Berkeley, em 1980, obtendo o título de doutor em 1987, com a tese "Os estágios iniciais da Filosofia da matemática de Wittgenstein" (Wittgenstein's early Philosophy of Mathematics). Durante seu doutoramento manteve contato com importantes filósofos, dentre eles: Paul Feyerabend, John Searle e Marcelo Dascal e, também com alguns nomes da lógica mundial, como Alfred Tarski, Robert Solovay e Newton da Costa. O contato com os Professores Dascal e da Costa rendeu-lhe um convite para lecionar no Departamento de Filosofia, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. No período de 1985 a 1986 atuou como Professor Assistente de Filosofia na Universidade Americana do Cairo, Egito. Em 1988 foi aprovado como Professor na área de Epistemologia, do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, sendo contratado em 19 de abril de 1989, iniciando suas atividades docentes em 1 de março de 1990. Foi um dos membros fundadores da Sociedade Brasileira de Ciência cognitiva. Em 1992, o Professor Michael se integra ao Grupo de Lógica do IFCH/Unicamp, composto pelos Professores Walter A. Carnielli, Antônio Mario Sette e Itala Maria Loffredo D´Ottaviano. Foi membro do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE) da Unicamp desde 1992. O Professor Michael Wrigley coordenava a Seção de Publicações do CLE quando veio a falecer em 9 de agosto de 2003.
Leonidas Helmuth Barbler Hegenberg licenciadou-se em Física pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade Mackenzie (1947-1950) e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo (1955-1958) e pós-graduado na Universidade de Califórnia, Berkeley, E.U.A. (1960-1962). Prestou concurso e foi admitido no I.T.A. em 1950, onde passou a lecionar a partir dessa data no departamento de Matemática e de 1960 em diante, no departamento de Humanidades. É professor titular desse Instituto.
Leonidas Hegenberg foi responsável pelo setor de Lógica, no programa de pós-graduação da Universidade Católica de São Paulo (1970-1975) e esteve associada a FFCL de Assis (1963-1964), a FFCL de Presidente Prudente(1964), a Escola de Engenharia de Guaratinguetá (1969-1972), ao setor de pós-graduação do Instituto de Pesquisas Espaciais (1971-1973), e a Escola de Comunicação e Artes da USP (1974), além de ministrar cursos em várias capitais brasileiras.
O Professor Leônidas Hegenberg exerceu ainda cargosadministrativos no ITA e tornou-se membro de diversassociedades científicas, como por exemplo, o InstitutoBrasileiro de Filosofia, Philosophy of ScienceAdministration, The British for the Philosophy ofScience, Sociedade Paranaense de Matemática, Association for Symbolic Logic, entre outras.
Antonio Mário Antunes Sette nasceu em Pernambuco. Casou-se com Neide Maria Durães Sette, com a qual teve três filhos. Sette, como é conhecido no meio acadêmico, formou-se Bacharel em Matemática pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe) no ano de 1967. Fez seu mestrado na Universidade Estadual de Campinas, sob a orientação do Professor Newton Carneiro Afonso da Costa. Em 1977, doutorou-se pela Universidade de São Paulo, também sob a orientação do Professor da Costa. Iniciou sua atividade profissional em 1966, como professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 1968, foi contratado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e logo depois, em 1969, pelo Instituto de Matemática Estatística e Ciência da Computação (IMECC) da Unicamp. Voltou à sua cidade natal, para lecionar na UFPe, a partir de 1971. Nessa Universidade, além das atividades acadêmicas, desempenhou também as funções de Vice-Coordenador de Pós-Graduação do Departamento de Matemática e de Chefe desse Departamento, ambos em 1979. Mas, em 1979 recebe um novo convite para lecionar na Unicamp, e aqui permanece até o seu falecimento.Foi orientando do Professor Leopoldo Nachbin, no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro. E, quando esteve em Marseille, na França, na década de 70, trabalhou com o Professor R. Fraissé.Membro fundador da Sociedade Brasileira de Lógica (SBL), criada em 14 de fevereiro de 1979, foi seu primeiro Vice-Presidente, durante a gestão de 1979-1980 e Tesoureiro de 1981-1982.Em 1983, titulou-se Professor Livre Docente. Passou a ser membro do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp, em 1982.Na Unicamp exerceu alguns cargos administrativos, entre os quais destacamos o de Diretor e Vice-Diretor do IMECC, de 1984 a 1986, o de Presidente da Comissão Deliberativa do Vestibular, de 1986 a 1990 e o de Pró-Reitor de Graduação, no período de 1986 a 1990.Suas pesquisas e trabalhos foram nas áreas de Álgebra da Lógica, Teoria de Modelos, Método Algébrico em Teoria de Modelos, Aspectos Geométricos das Linguagens Lógicas, Traduções e/ou Interpretações entre Lógicas e Lógicas Não-Clássicas.O Professor Antônio Mario Sette integrava o Grupo de Lógica do CLE/ IFCH-Unicamp.
Participou de aproximadamente 20 Seminários e Simpósios, além de inúmeras participações em bancas examinadoras. Muitas de suas publicações foram com seus pares, dentre eles podemos citar: Ayda Ignez Arruda, Itala Maria Loffredo DOttaviano e Walter Alexandre Carnielli, os três da Unicamp, com Newton C. A. da Costa, Rolando Chuaqui, Xavier Caicedo e Daniele Mundici. O XIII Encontro Brasileiro de Lógica, ocorrido na Unicamp em maio de 2003, foi dedicado à sua memória. O Professor Xavier Caicedo, da Universidade de Los Andes-Colômbia, rendeu-lhe homenagens e destacou as atividades desenvolvidas por Mário Sette enquanto membro do CLE e os vários trabalhos que os dois realizaram na área de lógica.