Janaína Lima nasceu em 8 de outubro de 1975 no estado do Rio Grande do Norte, sendo registrada em Araruna, Paraíba. Formou-se em pedagogia pela Universidade Paulista (Unip) de Campinas, onde residiu até o seu falecimento. Janaina Lima foi uma travesti feminina, negra, militante dos movimentos LGBTQIA+, em especial na defesa dos direitos travesti e transexuais. Além de pedagoga, foi também educadora social, vendedora autônoma e profissional do sexo. Em seu arquivo constam mais de 30 palestras realizadas em torno do tema da travestilidade por diversos estados do país, tais como Bahia, Goiás, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, entre outros. Atuou na militância política como participante do Grupo Identidade de Campinas e fez parte do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade de São Paulo desde 19 de dezembro de 2012, sendo a primeira presidenta travesti do conselho no ano de 2014. Foi, ainda, membro da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Janaína faleceu no dia 3 de setembro de 2021, vítima de um ataque cardíaco.
Fundado em 1935 nos Estados Unidos pelo estatístico George Gallup como AIPO - American Institute of Public Opinion (Instituto Americano de Opinião Pública), o Instituto Gallup foi precursor nas pesquisas de opinião pelo método de pesquisa por amostragem, ganhando reconhecimento por suas previsões na pesquisa eleitoral norte-americana. Já em 1948, o Instituto estava presente em diversos países, chegando ao Brasil em 1967. Conhecido originalmente por suas pesquisas de opinião pública conduzidas internacionalmente, a partir da década de 80, a Gallup Organization passa a focar no oferecimento de análises e consultorias para empresas do setor privado. No Brasil, o Instituto se destaca pela pesquisa eleitoral para a eleição presidencial conduzida em 1989, primeira eleição direta para presidente após 21 anos de regime autoritário. Em 1997, o Instituto deixou de existir.
Herbert Baldus, nascido em Wiesbaden em 14 de março de 1899 foi um etnólogo brasileiro nascido na Alemanha. Perto do término da 1ª Guerra Mundial (1914 -1918), Baldus, então com 18 anos de idade, foi incorporado ao Corpo Real de Cadetes de seu país, em Potsdam, como aviador. Esse episódio propiciou-lhe a produção de poemas centrados na temática da guerra. Em 1921, viajou para a Argentina e, em 1923, mudou-se para São Paulo, no Brasil. Nesse mesmo ano, como participante de uma expedição cinematográfica, visitou as populções Xamakoko, Kaskihá e Sanapaná, do Chaco, Paraguai. Essa viagem despertou em Baldus o interesse pelas regiões distantes da civilização e pelos estudos antropológicos, tendo como objeto os povos indígenas, dando assim os primeiros passos em sua carreira profissional como etnólogo. Baldus retornou à Alemanha e foi aluno de Richard Thurnwald, Konrad Theodor Preuss e Walter Lehmann, na Friedrich-Wilhelm-Universitat, onde concluiu seus estudos de etnologia em 1928, além de adquirir o título de Doutor em Filosofia. Em 1931, ele publicou seu primeiro livro "Indianer Studien im nordöstlichen Chaco", na cidade de Leipzig. Com a ascensão do nazismo ao poder em 1933, Baldus decidiu voltar para o Brasil, de onde nunca mais sairia. Em 1939 tornou-se professor de etnologia brasileira na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Herbert era também diretor da seção etnológica da FESPSP, e através do periódico “Sociologia”, divulgou diversos de seus trabalhos. Lecionou na FESPSP e teve como seus discípulos Oracy Nogueira, Gioconda Mussolini, Virgínia Leone Bicudo, Lucila Hermann, Florestan Fernandes, Levy Cruz, Fernando Altenfelder Silva, Sergio Buarque de Holanda, entre outros. Herbert editou a Revista do Museu Paulista e em 1947, publicou o primeiro volume da “Nova Série”, que é um dos mais importantes periódicos antropológicos do Brasil. Ele continuou na função de editor até a sua morte. A partir de 1955, Herbert Baldus passou a ser membro correspondente da Sociedade Suíça de Americanistas. Em 1961, ele assumiu a cadeira de Etnologia Brasileira da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, São Paulo. Em 1964, ano em que completou 65 anos, Baldus recebeu uma grande homenagem de inúmeros antropólogos do mundo. Hans Becher criou uma edição comemorativa de Völkerkundliche Abhandlungen — “Beiträge zur Völkerkunde Südamerikas”, onde trinta especialistas em assuntos Americanistas publicaram cada um, um texto de sua autoria, com o intuito de homenagear Baldus. Herbert Baldus faleceu em 24 de outubro de 1970, na cidade de São Paulo.
Cacilda Lanuza de Godoy Silveira, filha de José De Albuquerque Silveira e Lanuza de Godoy Silveira, nasceu em Campina Grande, em 1 de setembro de 1930 e faleceu em São Paulo, em 17 de junho de 2018. Mãe de Sevani e Marcelo e avó de Amanda, Gabriel, Rafael e Tomás, Cacilda Lanuza foi atriz de rádio, cinema, televisão e teatro. Desde 1978, aposentada de sua profissão, dedicou-se integralmente às questões ambientais, principalmente à luta antinuclear. Organizou o primeiro evento público em defesa das baleias no Brasil em 1979. Autora e intérprete da peça “Verde que te Quero Verde”, em 1982 escreveu o livro “A Semente na Palma da Mão”, também de informações ecológicas. Fundou e presidiu por 13 anos o Grupo Seiva de Ecologia, cujo “boletim” também elaborava. Teve atuação decisiva na inclusão do Artigo 204, de proibição da caça, na Constituição de São Paulo em 1989, após longa e árdua batalha. Recebeu do CGE - Grupo Consciência Ecológica, o título de General na Ecologia. Foi mencionada no livro “Galeria dos Ecologistas” em 1997.
O 13 de Maio – Núcleo de Educação Popular iniciou suas atividades na cidade de São Paulo em 13 de maio de 1982, fundado a partir do racha com a Federação dos Órgãos para Assistência Social (FASE). A entidade de natureza anticapitalista, desenvolvia cursos de formação política para trabalhadores no intuito de capacitá-los para a militância. Por meio de diversos educadores por ela formados propagava essa formação para outros locais do país. O curso incluía assuntos tais como: comunicação de militantes, sindicatos, história do movimento operário, história das revoluções, dentre outros. Nesse sentido, acumulou materiais que fomentaram esse curso, bem como documentos sobre o funcionamento da instituição. Apesar da extinção da entidade, muitos dos monitores formados ainda se reúnem e mantêm-se atuantes. Alguns materiais de seu acervo encontram-se com seus participantes.
Fundado em 1987 por um grupo de profissionais e educadores populares vinculados a movimentos sociais, universidades, igrejas e instituições públicas, o Centro de Educação e Assessoria Popular (CEDAP) tinha como objetivo contribuir com o movimento de redemocratização da sociedade brasileira pós-regime militar, buscando fortalecer e apoiar as organizações e movimentos populares de Campinas e região. Tendo como pressupostos os pilares da educação popular, o CEDAP realizou os chamados trabalhos de base, contribuindo para que o público envolvido (grupos de trabalhadores, mulheres, lideranças comunitárias e outros) tivesse uma formação que o colocasse em condições de intervir na realidade para transformá-la. O CEDAP se posiciona politicamente entre as organizações no campo democrático da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), da qual é associada desde a fundação. Com mais de vinte anos de existência, o CEDAP firmou-se no cenário de Campinas e região como espaço de referência em projetos destinados ao público adolescente e jovem, e no apoio, assessoria e formação de lideranças comunitárias. As atividades oferecidas são totalmente gratuitas e para a sustentação dos seus projetos, o CEDAP estabelece parcerias com órgãos da cooperação internacional, órgãos governamentais das esferas municipal, estadual e federal, empresas e fundações, além da prestação de serviços de assessoria a projetos socioeducativos e da contribuição de seus associados e de indivíduos.
Nascida na cidade de Americana, São Paulo, em 1950, e graduada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) em 1971, Regina Müller é mestra em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutora em Ciências Humanas (Antropologia) pela Universidade de São Paulo (USP), pós-doutoramento no departamento de Performance Studies pela New York University (NYU) e livre-docente em Antropologia da Dança pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sua carreira acadêmica foi desenvolvida na área de Antropologia, com ênfase em Teoria Antropológica, Antropologia da Performance e Etnologia Indígena, atuando principalmente nos temas: artes indígenas, Asurini do Xingu, ritual, performance e dança. Foi Mestre Antropóloga da Funai de 1978 a 1982. Hoje, Regina Müller é docente aposentada do Departamento de Artes Corporais do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Januário Garcia Filho nasceu em Belo Horizonte no dia 16 de novembro de 1943. Januário foi um dos quatro filhos de uma família pobre, moradora da periferia da capital mineira. Seu pai morreu quando Januário tinha 4 anos, sendo então criado até os 12 anos pela mãe, quando ela faleceu ainda muito jovem, aos 36 anos, por volta de 1955. Januário Garcia chega ao Rio de Janeiro aos 13 anos, indo morar nas ruas e abrigos públicos da cidade. Levado ao Serviço de Amparo ao Menor (SAM) aos 16 anos, foi voluntário da Tropa de Paraquedista do Exército aos 17, onde fez curso de Infante Paraquedista e, completou o ensino fundamental e ensino médio. Foi nessa ocasião que comprou sua primeira câmera fotográfica, fazendo fotos dos colegas no quartel. Após sair do quartel e sobreviver de outras atividades, Januário retornou à fotografia na década de 1970, iniciando assim sua carreira profissional com o incentivo de Ana Maria Felippe, sua esposa, que o alavancou na profissionalização. Fotografou para jornais alternativos da época, prestando serviços como freelancer para a grande imprensa, começando pela Tribuna da Imprensa e, com o tempo, para outras redações: O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, A Notícia, Revista JB e algumas publicações da Editora Bloch. Foi convidado para participar da fundação da Photo Galeria, organização voltada para a venda de fotografia de arte, onde conheceu George Racz que mais tarde o convidou para ser seu assistente. Montou um estúdio e foi trabalhar com publicidade, encontrando as travas raciais estruturais impostas à população negra ao tentar ocupar um espaço social não reservado à ela. Durante todo tempo que fotografou para publicidade, o único fotógrafo negro que encontrou, nessa área, foi Walter Firmo e, tinha, ainda, uma referência do fotógrafo negro, José Medeiros. Sua chegada ao Movimento Negro se deu na ocasião em que era assistente do Racz, pois ele havia implantado um curso de fotografia no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro onde o próprio ministrava aulas, sendo considerado um dos melhores cursos de fotografia da cidade do Rio de Janeiro. Em um determinado momento, Januário foi convidado a substituir Racz, como professor. Em 1975, havia um aluno negro no Curso, José Ricardo D´Almeida, que viu sobre sua mesa, uma revista negra americana Ebony, periódico que Januário comprava para desenvolver seu inglês e acompanhar as lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos. Esse número da revista falava em Malcolm X. Ao ver a revista o aluno convidou Januário Garcia à uma reunião de um grupo de negros realizada aos sábados, no Centro de Estudos Afro-asiáticos na Universidade Cândido Mendes em Ipanema. Ao fim da reunião, Januário percebeu que ali estava sendo escrita uma nova história na sociedade brasileira. Voltou nas reuniões seguintes e começou a fotografar as reuniões do Movimento Negro. Essa documentação fotográfica passou a ser seu trabalho pessoal e ao mesmo tempo sua ferramenta de participação na luta e na história do Movimento Negro Brasileiro. Januário documentou brasileiros afro-descendentes nos mais diversos aspectos da vida: social, político, cultural e econômico, criando um monumental acervo fotográfico que relata a história contemporânea dos negros do Brasil demonstrada em belíssimas imagens, capturadas por sua sua lente. As imagens retratam a luta diária do negro para conseguir se inserir nessa sociedade, seu cotidiano, sua cultura, a alegria durante o carnaval entre tantos outros momentos. São registros que nos permitem adentrar suas casas e transitar pela história de lutas e conquistas do movimento negro no Brasil. Através destas imagens é possível serem encontradas, ainda nos dias de hoje, marcas e reflexos de um passado não superado. Januário estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, e morreu na noite de 30 de junho de 2021, em decorrência da COVID-19.
José Benedito Correia Leite nasceu no dia 23 de agosto de 1900, em São Paulo. Teve origem pobre, trabalhando desde muito jovem como entregador de marmitas, lenheiro e cocheiro. Autodidata, teve incentivo de uma antiga patroa, professora, para que estudasse. Um dos mais importantes ativistas da imprensa negra do Brasil, aos 24 anos tornou-se um ativista, sendo co-fundador, com Jayme de Aguiar, do jornal “O Clarim”, que recebeu mais tarde o nome de “O Clarim d’Alvorada”, publicado de 1924 a 1932. Como idealizador do projeto, foi o diretor responsável, redator, repórter e gráfico do periódico que na época ficou conhecido como um jornal feito por negros para a comunidade negra. Correia Leite simpatizava com o ideal de um socialismo democrático e em seus artigos articulava história e política, relacionando a exclusão social experimentada pelos negros com o processo de implantação do trabalho assalariado e a aceleração do capitalismo e da industrialização no país. Participou das atividades do Centro Cívico Palmares, integrou o Conselho da fundação da Frente Negra Brasileira (FNB) em 1931, entidade com a qual rompeu mais tarde por divergências ideológicas, e em 1932 participou da idealização e fundação do Clube Negro de Cultura Social, tornando-se um dos secretários e orientadores. Em 1945, colaborou na fundação da Associação dos Negros Brasileiros (ANB) e foi editor do “Alvorada”, jornal da entidade. A ANB encerraria suas atividades em 1948. Em 1956, fundada a Associação Cultural do Negro (ACN), Correia Leite assume a função de presidente do Conselho Deliberativo por quase 10 anos. Em 1960 participou, ainda, da elaboração da revista “Niger”. Além de atuar nos jornais e associações citadas, José Correia Leite escreveu também para outros órgãos da Imprensa Negra. Além da militância, na qual foi uma referência, José Correia Leite tinha a preocupação de construir um diálogo com os pesquisadores que se debruçavam sobre a questão racial. Assim, ele colaborou com depoimentos e material bibliográfico para diversos trabalhos sociológicos. Foi entrevistado para a realização de documentários cinematográficos como “O Negro da Senzala ao Soul”, da RTC, “A Escravidão”, de Zózimo Bulbul, e outros. Depois de se aposentar, dedicou-se à pintura, fazendo uma exposição em 1978 e outra em agosto de 1983, na Galeria da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo. A biografia de José Correia Leite foi escrita por iniciativa do intelectual Luiz Silva Cuti, intitulada “E disse o velho militante José Correia Leite”. Correia Leite faleceu em 27 de fevereiro de 1989, em São Paulo, aos 88 anos de idade.
