Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em Curitiba, em 11 de julho de 1924, filho de Giuseppe Lattes e de Carolina Maria Rosa Lattes. Foi casado com D. Martha Siqueira Neto Lattes, com quem teve quatro filhas e nove netos. Fez seus estudos básicos na Escola Americana de Curitiba, entre 1929 e 1933, e no Instituto Médio Dante Alighieri, em São Paulo, de 1934 a 1938. Em 1943 recebeu os diplomas de bacharel em Matemática e Física pela Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras da USP. Foi lá que iniciou sua carreira científica, no então Departamento de Física, ao publicar um trabalho científico sobre a abundância de núcleos no Universo, em parceria com Gleb Wataghin. Cesar Lattes tornou-se mundialmente conhecido em 1947, quando descobriu a partícula méson-pi em colaboração com Giuseppe Occhialini e Cecil Powell. Na época, Lattes trabalhava no laboratório H.H. Wills da Universidade de Bristol, dirigido por Powell, onde melhorou a técnica de emulsão nuclear em chapas fotográficas desenvolvida pelo próprio Powell. Depois viajou para o Monte Chacaltaya, Bolívia, a 5200m de altura, onde expôs as chapas fotográficas aos raios cósmicos e descobriu o méson-pi, cuja existência foi prevista teoricamente em 1935, por Hideki Yukawa. Estes resultados foram publicados na revista Nature, em 24 de maio de 1947, sob o título "Processes involving charged mesons". Nessa época Lattes tinha apenas 22 anos. No ano seguinte, em colaboração com Eugene Gardner, Lattes obteve artificialmente a partícula méson-pi no recém-construído sincro-cíclotron da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Lattes quase foi contemplado com o Prêmio Nobel de Física. Entretanto, em 1950, o prêmio foi concedido a Powell, pelo "seu desenvolvimento do método fotográfico de estudo dos processos nucleares e suas descobertas envolvendo mésons feitas com este método". Embora Lattes tenha sido o principal pesquisador e o primeiro autor do histórico artigo da Nature, acredita-se que Powell tenha sido o único agraciado devido ao seu trabalho sobre a produção de pósitrons publicado, em 1933. Retornando ao Brasil em 1949, teve importante papel na catalisação dos esforços que levaram finalmente à criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) - atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - em 1951. Diretor Científico do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas desde a fundação, em 1949, e principal consultor científico nos primeiros anos do Laboratório de Chacaltaya, deixou esses cargos em 1955, para uma curta temporada nos Estados Unidos. Recusando convites os mais honrosos, como o de substituir o falecido Enrico Fermi na chefia do seu Instituto na Universidade de Chicago, retorna ao Brasil dois anos depois para criar, na USP, um laboratório para estudos de interações a altas energias na radiação cósmica. A partir de 1962, lidera a reunião de grupos brasileiros e japoneses num projeto de longo alcance sobre interações a altas energias na radiação cósmica. Em 1967, Lattes assume o cargo de professor titular no recém-fundado Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp, tornando-se o primeiro diretor do Departamento de Raios Cósmicos, Cronologia, Altas Energias e Léptons. Em 1969, ele e seu grupo descobriram a massa das denominadas bolas de fogo (fireball), partículas provenientes de um fenômeno espontâneo que ocorre durante colisões de altas-energias, que também foram detectadas pela utilização de chapas fotográficas expostas à radiação cósmica no Laboratório de Chacaltaya. Em 1986, aposentou-se da Unicamp, recebendo, no mesmo ano, o título de Doutor Honoris Causa e de Professor Emérito da universidade. Lattes foi alvo de repetidas homenagens em todo o país, sendo escolhido por inúmeras vezes como paraninfo ou patrono de contingentes de novos estudantes, formandos em ciências exatas e aplicadas, além de ter recebido inúmeros títulos e prêmios. Cesar Lattes faleceu em Campinas, no dia 8 de março de 2005, vítima de uma parada cardíaca. O acervo principal foi doado ao Arquivo Central (SIARQ) e para a Biblioteca Central, por sua família após seu falecimento.