Filho de Eliziário Pimenta da Cunha e de Maria Natália Eulalio de Sousa Pimenta da Cunha, Alexandre Magitot Pimenta da Cunha nasce em dezoito de junho de 1932, no Rio de Janeiro.
Alexandre Eulalio tem seus estudos realizados na terra natal: Scuola Principe di Piemonte (1937-1941), Colégio São Bento (1942-1948) e Colégio Andrews (1949-1951). Frequenta a Faculdade Nacional de Filosofia (1952-1955), que, no entanto, não chega a concluir. Nessa mesma instituição, Eulalio participa de um curso com Augusto Meyer - com quem trabalharia, logo em seguida, no Instituto Nacional do Livro, onde se torna, ao lado de Brito Broca, redator da "Revista do Livro" (1956-1965).
A partir de 1952, Alexandre Eulalio começa a escrever para jornais de grande circulação, a exemplo do "Estado de Minas", "O Diário" (Belo Horizonte), "Jornal de Letras", "Correio da Manhã", "Diário Carioca", "O Globo", "Folha de São Paulo", entre outros. Em 1963, recebe o Prêmio Brito Broca ("Correio da Manhã") com "O ensaio literário no Brasil". De meados dos anos 1960 em diante, diminui sua contribuição para jornais diários, passando a escrever para revistas especializadas.
Em dezembro de 1961, Alexandre Magitot Pimenta da Cunha efetiva a alteração oficial de seu nome para Alexandre Eulalio Pimenta da Cunha.
Comissionado pelo Governo Federal, Alexandre Eulalio viaja para a Itália em 1966 como leitor brasileiro junto ao Instituto Universitàrio di Venezia, onde permanece até 1972. Concomitantemente a esse projeto, é conferencista-visitante na Universidade de Harvard, entre setembro de 1966 e fevereiro de 1967.
Ao longo de sua atividade profissional, Alexandre Eulalio publica uma quantidade expressiva de prefácios, introduções, apresentações e posfácios. Em formato de livro, lança em 1978 a obra "A aventura brasileira de Blaise Cendrars", que obtém o Prêmio Pen Club do Brasil. Dedica-se, em suas atividades de pesquisa, a diversos temas e perfis biográficos, a exemplo da elaboração da biografia de Dom Luís, neto de Dom Pedro II. Eulalio não chega a concluir o perfil biográfico dessa personalidade, deixando, porém, um vasto material iconográfico e documental, incluindo esboços, notas e discursos sobre membros da família imperial brasileira.
Ao longo dos anos, Alexandre Eulalio traduz diversas obras para o português. São exemplos dessa sua atividade as obras: "O Belo Antonio", de Vitaliano Brancati (1962); "Nathanael West", de Stanley Edgar Hyman (1964); "Isadora", de Alberto Savinio (1985); e textos de Jorge Luis Borges que foram publicados no "Jornal de Letras", na revista "Senhor" e na "Leitura".
No decorrer do decênio de 1980, dirige a coleção "Tempo reencontrado" (parceria da editora Nova Fronteira com a Fundação Casa de Rui Barbosa), também colocando em circulação dois textos raros: "Mattos, Malta ou Matta?", de Aluísio Azevedo; e "O Tribofe", de Arthur Azevedo. Entre 1972 e 1975, enquanto Assessor Superior do Departamento de Assuntos Culturais do Ministério da Educação (MEC), é roteirista e orientador da mostra itinerante "Tempo de Dom Pedro II", escrevendo o roteiro e dirigindo os documentários "Memória da Independência" e "Arte Tradicional da Costa do Marfim". Nesse campo, também escreve o roteiro e dirige o curta-metragem "Murilo Mendes: a poesia em pânico" e colabora com Joaquim Pedro de Andrade no roteiro do longa "O homem do pau-brasil" (1981).
Na condição de Chefe de Gabinete do Secretário Municipal de Cultura de São Paulo (1975-1979), Alexandre Eulalio monta as exposições "José de Alencar e seu Mundo" e "Dom Pedro II", também editando vários números especiais do "Boletim Bibliográfico da Biblioteca Municipal Mário de Andrade". Entre 1984 e 1985, atua como Comissário brasileiro junto ao Ministério das Relações Exteriores, dentro do programa França-Brasil. Participa do Conselho do Museu de Arte de São Paulo "Assis Chateaubriand" (MASP) e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), estando ligado, ainda, a inúmeras atividades culturais no Rio de Janeiro e em São Paulo (palestras, cursos, exposições etc.), particularmente na Casa Rui Barbosa e no Museu Nacional de Belas Artes. É desse período a exposição sobre o autor de "Menina Morta", organizada pelo amigo Marco Paulo Alvim, cujo catálogo estampou o conhecido ensaio "Os Dois Mundos de Cornélio Pena" (1979) e o ensaio "Henrique Alvim Corrêa: Guerra & Paz" (1981), também concebido para apresentar os trabalhos do artista reunidos na Casa Rui Barbosa. Nesse universo, destaca-se ainda a exposição "Século XIX", da qual Eulalio é um dos responsáveis, dentro da mostra "Tradição e Ruptura", patrocinada pela Fundação Bienal de São Paulo, em 1984.
Em 1979, Alexandre Eulalio torna a atuar em uma universidade nacional, na qualidade de docente notório saber no Departamento de Teoria Literária, do Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (IEL-UNICAMP). Nessa Instituição, Eulalio leciona entre 1980 e 1988, tendo a oportunidade de retomar diversos pontos de interesse e atuar em diferentes projetos. Entre eles, destaca-se "Literatura e Pintura: simpatia, diferenças, interações" (1979), em que valoriza a perspectiva comparativa, outrora presente em artigos e textos. Nessa fase, também planeja a organização dos volumes da obra de Brito Broca, dos quais três são efetivamente publicados.
Alexandre Eulalio falece no dia dois de junho de 1988, na cidade de São Paulo.
A ideia da fundação da Associação de Linguística e Filologia da América Latina, ALFAL, ocorre durante o IX Congresso Internacional de Linguística, organizado pelo Comitê Internacional Permanente de Linguistas (CIPL/ UNESCO), realizado em Cambridge, Massachusetts, em agosto de 1962. Sua efetivação, no entanto, só acontece dois anos depois, em uma reunião realizada pelo Instituto de Filologia da Universidade do Chile, em Viña del Mar, Chile.
Entre 1966 e 1981, a ALFAL desenvolve suas atividades em conjunto com o Programa Interamericano de Linguística e Ensino de Idiomas (PILEI). Neste período, à Associação coube a tarefa de organizar congressos, enquanto que, ao PILEI, coube promover projetos coletivos de pesquisa, simpósios e institutos.
Em janeiro de 1966, é realizado em Montevidéu, Uruguai, o I Congresso Internacional da ALFAL. O segundo Congresso ocorre três anos depois, em São Paulo. Até o ano de 1981, quando a parceria acaba, devido ao desaparecimento do PILEI, são realizados mais quatro congressos. A ALFAL assimila, então, alguns projetos que eram desenvolvidos no PILEI.
A nova etapa que se inicia a partir daí caracteriza-se, principalmente, pela determinação em se manter a Associação, aumentar seu número de associados e estimular os interessados nas atividades da ALFAL.
A partir de 1984, ocorrem mais sete congressos internacionais. O IX ocorre na cidade de Campinas, em agosto de 1990, no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL - UNICAMP). O XIII Congresso, o último realizado, acontece em San José, na Costa Rica, em fevereiro de 2002. A partir de 1989, passa a ser publicado o primeiro número da revista "Linguística", que em 2002 chega ao seu 14º número.
A ALFAL é constituída por Comissões de Pesquisa, que são o núcleo da Associação. Essas comissões são integradas por especialistas, que se reúnem voluntariamente, e organizadas através de uma agenda de pesquisas, cujos resultados são apresentados nos congressos internacionais. É administrada por uma Diretoria composta por Presidente, Secretário Geral e Tesoureiro, que exercem um mandato de seis anos. Essa Comissão é renovada, pela metade, a cada três anos. O órgão deliberativo máximo é a Assembleia Geral, convocada a cada três anos pelo Presidente. Seis vogais, igualmente eleitos, fiscalizam e aprovam os informes da presidência, da secretaria e da tesouraria, auxiliando-a em suas deliberações. Delegados regionais nomeados pela Diretoria auxiliam-na nas tarefas administrativas.
O Programa 'Certas Palavras' foi concebido em 1980, por iniciativa dos jornalistas Claudiney José Ferreira e Jorge Marques de Vasconcellos, e foi concretizado na forma de um programa veiculado em rádio e que versava sobre livros e ideias. O programa, que contava com uma produção independente, foi ao ar pela primeira vez em 21 de fevereiro de 1981, veiculado pela rádio Gazeta AM de São Paulo. Três meses após sua estreia recebeu premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e, nesse mesmo ano, o prêmio Jabuti. Recebeu o prêmio da APCA ainda outras quatro vezes (1982, 1989, 1991 e 1995) e o prêmio Jabuti outras duas (1982 e 1988). Em Julho de 1982 passou a ser veiculado pela rádio Excelsior de São Paulo, permanecendo no ar até 1983. Voltou ao ar cinco anos depois (1988), agora pela rádio Eldorado AM. A emissora passou por uma reformulação e passou a se chamar Nova Eldorado AM. Durante este intervalo de existência do programa, Jorge Marques de Vasconcellos dirigiu, entre 1985 e 1987, um programa da rádio Cultura AM de São Paulo, inicialmente chamado 'De Letras' e posteriormente teve seu nome alterado para 'De Letras e Artes', nesse programa, ele procurou alcançar os mesmos objetivos do 'Certas Palavras'. Em março de 1991, o programa 'Certas Palavras', que havia permanecido dois anos e meio no ar pela Nova Eldorado AM, foi novamente cancelado. Porém, em julho deste mesmo ano voltou a ser transmitido pela Excelsior AM, emissora que poucos meses depois fez parte do núcleo formador da Rede CBN Brasil. Há no acervo gravações do programa Certas Palavras realizadas até abril de 1996. O programa constitui-se fundamentalmente de entrevistas ou de perfis, de um escritor ou personalidade possuidor de alguma relação com o ambiente cultural nacional, além de debates, coberturas jornalísticas de eventos do mercado editorial, e eventuais entrevistas com autores estrangeiros. O programa ainda estabeleceu intercâmbios culturais com a veiculação de produções radiofônicas e estrangeiras, como os programas 'Livros e Autores', produzido pelo Serviço Brasileiro da Rádio BBC de Londres; 'Prisma Cultural' e 'Berlim com olhos sul-americanos', ambos produzidos pela Rádio alemã 'Deutsche Welle' e, 'Meridiano Zero', produzido pelo Ministério Britânico das Relações Exteriores.
Michel Lahud nasceu no dia 8 de setembro de 1949, filho de Bechara Lahud e Victória Arbid Lahud. Fez seu estudo primário e secundário na cidade de São Paulo, entre 1956 e 1967. Em 1968 iniciou a graduação na Universidade de São Paulo, estudando nos departamentos de filosofia e de psicologia. No ano seguinte, transfere-se para a França, onde continuou seus estudos de filosofia. Primeiramente na Université de Paris VIII, onde estudou com Michel Foucault, que o aconselhou a mudar para a Université de Provence, Aix-en-Provence, onde, orientado por Gilles Gaston Granger se licenciou em filosofia em 1972 e, no ano seguinte, recebe o título de mestre em filosofia com a dissertação 'Enquête autor de la notion de deixis'. Em 1974, retoma seus estudos na Universidade de São Paulo, ingressando no doutorado. No ano seguinte, entra para o quadro de docentes do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como professor assistente do Departamento de Linguística. Em 1979 obtém o título de Doutor na USP e publica 'A propósito da noção de dêixis', tradução do mestrado que fez na França. Nesse mesmo ano, lança a tradução de dois livros que fez em parceria: 'Usos da linguagem' de François Vanoye (tradução e adaptação com Haquira Osakabe, Clarice Madureira e Éster Gebara) e 'Marxismo e Filosofia da Linguagem' de Mikhail Bakhtin (tradução com Yara F. Vieira). Entre 1978 e 1981, com uma bolsa de estudos da CAPES, faz estágio no Département de Recherches Linguistiques da Université de Paris VII e, entre 1981 e 1982, na Section 'Sémantique, Sémiologie et Linguistique' da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris). Nesse período, publica, em conjunto com F. Franklin de Matos, o livro 'Matei minha mulher: o caso Althusser' (1981). Entre 1976 e 1983, foi membro do comitê de redação da revista 'Almanaque: Cadernos de Literatura e Ensaio'. Em 1985, faz a conferência de abertura da 'Mostra Pier Paolo Pasolini', realizada no Museu da Imagem e do Som em Campinas, São Paulo. No ano seguinte, torna-se professor do Programa de Pós-graduação em Lógica e Filosofia das Ciências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp e profere conferências no curso 'Os sentidos da paixão', promovido pela Funarte em quatro capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba. Entre 1987 e 1988, com bolsa de estudos concedida pela CAPES, foi pesquisador no Fondo Pier Paolo Pasolini em Roma. Nessa estadia, participa como pesquisador convidado da mostra 'Pier Paolo Pasolini: um cinema di poesia', realizada junto à 'Mostra Internazionale del Cinema', em Veneza. Em 1989, quando retorna ao país, transfere-se do IEL para o IFCH, tornando-se professor assistente do Departamento de Filosofia. Em 1990 publica 'Os jovens infelizes: antologia de ensaios corsários' de Pier Paolo Pasolini; livro que traduziu com Maria Betânia Amoroso. Além das obras citadas, possui ensaios e traduções publicados em vários periódicos brasileiros e estrangeiros. Faleceu em 18 de dezembro de 1992. Fontes: LAHUD, Michel. Currículo (datilografado). 2 p.; FRANCHI, Carlos. 'O caminho de Michel Lahud'. Folha de S. Paulo, São Paulo, 17 jan. 1993.
Ficcionista, ensaísta, poeta, crítico literário, jornalista, tradutor, artista plástico e estudioso de problemáticas africanas, Alfredo Augusto Margarido nasce em cinco de fevereiro de 1928, na freguesia de Moimenta, região de Vinhais em Portugal.
Alfredo Margarido inicia sua formação acadêmica na Escola de Belas Artes do Porto, onde realiza algumas exposições. Paralelamente, realiza exposições também em Lisboa, antes de seguir, a serviço do governo português, para o continente africano, no início dos anos 1950. Durante a estada nesse continente, viaja primeiramente para São Tomé e Príncipe e, em seguida, para Angola, onde é responsável pelo Fundo das Casas Econômicas.
Em 1953, inicia a sua obra literária com a publicação de "Poemas com Rosas". Em 1957, é expulso do território angolano devido a denúncias feitas e publicadas, no "Diário Popular" de Lisboa, sobre as situações de discriminação racial que ocorriam no país. No período em que ficou na África, colaborou com várias publicações, a exemplo do "Boletim de Cabo Verde" e do "Boletim da Guiné".
Alfredo Margarido então regressa para Portugal e se dedica ao jornalismo. Dirige o suplemento literário do "Diário Ilustrado" e desenvolve as atividades de crítica literária e crítica sobre artes plásticas. Em 1958, publica "Poema Para Uma Bailarina Negra", de inspiração surrealista. Na ficção, integra-se na tendência do "noveau roman" com as obras "No Fundo Deste Canal" (1960) e "A Centopeia" (1961). Em 1961 publica o ensaio "Teixeira de Pascoais" e, no ano seguinte, lança - em parceria com Artur Portela Filho - "O Novo Romance", livro que divulga o "nouveau roman", em Portugal. Em 1963, edita, nessa mesma linha literária, o romance "As Portas Ausentes". Em 1964, publica, em Lisboa, o ensaio "Negritude e humanismo". No mesmo ano, instala-se em Paris, onde se formará em Ciências Socias, na "École des Haute Études en Sciences Sociales".
Por combater ativamente o colonialismo durante o período da ditadura, seu regresso a Portugal lhe era vetado. Nesse período, cria e co-dirige a revista "Cadernos de Circunstância" ao lado de um grupo de exilados portugueses: Manuel Villaverde Cabral, Jorge Valadas (conhecido também pelo pseudônimo de Charles Reeve), Fernando Medeiros, Alberto Melo, João Freire e José Maria Carvalho Ferreira.
Enquanto professor, leciona em várias universidades francesas (Paris, Vincennes e Amiens) e, após 25 de abril de 1974, retorna para Portugal e leciona em Lisboa. No Brasil, passará pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Da vasta obra de Alfredo Margarido, muita da qual dispersa por jornais e revistas, destaque-se, além das citadas, os ensaios "Jean Paul Sartre" (1965), "A Introdução ao Marxismo em Portugal" (1975), "Ensaio Sobre a Literatura das Nações Africanas" (1980), "Fernando Pessoa/Santo Antônio, São João, São Pedro - introdução crítica e notas" (1986), "Plantas e Conhecimento do Mundo nos Séculos XV e XVI" (1989) em colaboração com Isabel Castro Henriques, "As Surpresas da Flora no Tempo dos Descobrimentos" (1994) e "A Lusofonia e os Lusófonos: novos mitos portugueses" (2000).
Alfredo Margarido também se notabiliza na área da tradução, vertendo obras de Anouilh, Faulkner, James Joyce, Steinbeck, Dylan Thomas, Nietzsche, Saint-John Perse, Kafka, entre outros.
Deixa uma vasta obra, muita da qual dispersa por obras coletivas - capítulos, introduções, prefácios, posfácios -, e por estudos espalhados em jornais e revistas culturais e científicas, nacionais e estrangeiras. Uma parte dessa obra plástica foi reunida em "33+9 Leituras Plásticas de Fernando Pessoa" (1988) e em "Obra Plástica de Alfredo Margarido" (2007).
Em 2009, o espólio de Alfredo Margarido passa a integrar o acervo da Biblioteca Nacional de Portugal, em decorrência de doação realizada pelo próprio titular.
Alfredo Augusto Margarido falece em Lisboa, no dia doze de outubro de 2010.
Paulo Alfeu Junqueira Duarte nasceu na cidade de São Paulo, em 17 de novembro de 1899, filho de Hermínio de Monteiro Duarte e de Jovina Junqueira Duarte. Estudou no instituto Champagnat, no Ginásio de São Paulo e São Bento, no Externato Pereira Barreto e no Externato Alfredo Paulino. Diplomou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo. Desenvolveu, ao longo de sua vida, as atividades de cronista, memorialista, ensaísta e tradutor, utilizando-se em suas obras de inúmeros pseudônimos, tais como Alfeu Caniço, Caniço Filho, Gabica Diniz e Tietê Borda. Ele foi um dos fundadores do Departamento Cultural da Cidade de São Paulo, da Universidade de São Paulo, e foi fundador da revista Anhembi, foi também político, professor, diretor de diversos jornais e revistas e membro da Sociedade Paulista de Escritores. Iniciou sua carreira no jornal 'O Estado de São Paulo' (1919), como revisor, foi repórter responsável pelas notícias sobre o governo e chegou ao cargo de editor-chefe, no final dos anos 40, além disso, participou de importantes episódios da vida política e cultural paulista, atuou na revolução constitucionalista e, por isso, permaneceu exilado por cerca de um ano, ajudou a articular a oposição ao Partido Republicano Paulista, engajando-se, junto com industriais emergentes, no Partido Democrático, exerceu também a função de consultor jurídico do prefeito de São Paulo e conseguiu-se eleger-se deputado estadual pelo Partido Constitucionalista. Em 1938, foi exilado pelo Estado Novo, condição que permaneceu até 1945, vivendo a maior parte do tempo na França. Em 1950, deixou o jornal e fundou a revista Anhembi, nesta revista abriu-se espaço para que intelectuais brasileiros e estrangeiros publicassem suas pesquisas acadêmicas, até 1962, quando ele foi obrigado a fechar a revista por razões econômicas. Durante a existência da revista, ele foi palco de embates com personalidades da política da época, como Adhemar de Barros e Getulio Vargas, ao mesmo tempo em que o jornalista causava polêmica devido a uma incompreendida amizade com Jânio Quadros. Ele desenvolveu ao longo de sua vida um grande paixão pela antropologia, paixão que foi despertada pelo professor Hermann von Hering, foi, também, discípulo de Paul Rivet, criador do Museu de l´Homme e quem estimulou Paulo Duarte a criar o Instituto de Pré-História. Entre suas amizades no campo das letras, foi amigo, entre outros importantes nomes, de Mário de Andrade, Érico Veríssimo e de Monteiro Lobato. Apesar de, ao que tudo indica, ter tido participação efetiva na criação da USP, não foi reconhecido como um dos fundadores da Instituição. Fundou, em 1962, o Instituto de Pré-História, que depois foi absorvido pela USP. Desenvolve também a atividade de professor universitário e, devido a suas aulas, foi responsável por muitas polêmicas, principalmente devido as criticas que fazia à situação interna do país no período da ditadura. Sua obra é composta por: 'Sob as arcadas' (crônicas), 1927; 'Agora Nós' (crônicas), 1927; 'Que é que há?' (pequena história de uma grande pirataria), 1931; 'Um conluio moral'(ensaio), 1934; 'Variações sobre a gastronomia' (ensaio), 1944; 'Prisão, exílio, luta' (política), 1946; 'Departamento de Cultura, vida e morte de Mário de Andrade', 1946; 'Palmares pelo avesso' (crônicas), 1947; 'Versos de Trilussa' (tradução), 1954; 'O espírito das catedrais' (memória), 1958; 'Paul Rivet por ele mesmo' (tradução), 1960; 'O resto não é silêncio...', 1965; 'O processo dos rinocerontes', 1969; 'Mário de Andrade por ele mesmo' (cartas, prefácio de Antônio Cândido), 1971; 'Memórias', 1974, 'Raízes profundas (2ª ed.)', memórias, 1975; 'Memórias: vou-me embora pra Pasárgada', 1979; 'Memórias n. 9: e vai começar uma era nova', [s.d.].
No dia 16 de março de 1978, o jornalista Sérgio Coelho, correspondente em Sorocaba do jornal 'O Estado de S. Paulo', procura o Prof. Zeferino Vaz, Magnífico Reitor da Unicamp, para comunicar a existência de uma comunidade negra no bairro do Cafundó, município de Salto de Pirapora, interior de São Paulo, que teria, entre outras, a característica de falar uma língua aparentemente de origem africana. Encaminhada a notificação ao Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, o Prof. Peter Fry houve por bem procurar os professores Maurizio Gnerre e Carlos Vogt do Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem, com o intuito de criar uma equipe interdisciplinar que pudesse esclarecer a situação, nos seus aspectos tanto sociais quanto linguísticos. Logo na primeira visita da equipe na comunidade, gravaram uma conversa que serviu como análise preliminar e, logo em seguida, encaminharam um projeto de pesquisa intitulado 'Os Negros do Cafundó: Linguagem e Comunidade' para a FAPESP que aceitou financiá-lo. Entre Cafundó, na região de Sorocaba, Patrocínio em Minas Gerais, Mogi das Cruzes, Itapetininga, Conceição da Barra (ES) realizaram durante o desenvolvimento da pesquisa um total de 65 visitas. Na maior parte destas visitas, foram realizadas gravações de entrevistas, onde se registraram histórias de vida, histórias das comunidades, incidentes de relevância, tais como brigas por terras, violência e morte, a significação social das linguagens, seus léxicos e estruturas. As demais visitas foram dedicadas à reconstrução da história documental das comunidades de Cafundó e Caxambú e, para tanto, foram realizadas pesquisas nos cartórios de Itapetininga, Sorocaba e Sarapuí, na Cúria de Sorocaba e no arquivo do Estado de São Paulo na cidade de São Paulo. Para o enfoque histórico contaram com a ajuda constante do historiador Robert Slenes, professor da Universidade Federal Fluminense. Os objetivos fundamentais da pesquisa foram, ao mesmo tempo, investigar as relações entre linguagem, cultura e organização social no contexto específico do Cafundó e procurar levantar elementos que pudessem contribuir para o estudo da história da população negra no Estado de São Paulo. Os resultados foram publicados parcialmente em diversos artigos e comunicações durante o desenvolvimento da pesquisa e, posteriormente, de forma mais ampla, no livro 'Cafundó: a África no Brasil - linguagem e sociedade'. Fonte: Documentos do Fundo - Cf. 01 e Cf. 13.
Carlos Franchi nasce em quinze de agosto de 1932, em Jundiaí, interior de São Paulo.
Ao longo da vida, diploma-se com duas formações acadêmicas: bacharel e licenciado em Letras Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), em 1954; e bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), em 1968. Por certo tempo, Carlos Franchi exerce as duas profissões. Entre 1951 e 1955, é professor concursado de Português e Latim em Jundiaí e, entre 1955 e 1957, em Itatiba. Entre os anos de 1957 e 1971, é professor concursado do Colégio de Aplicação da USP, e, entre 1960 e 1961, professor instrutor de didática especial do português na Faculdade de Educação da USP. Já entre 1968 e 1969, Franchi ministra aulas de Literatura e Teoria da Literatura na Universidade Nossa Senhora da Medianeira (Jesuítica) de São Paulo. Entre 1967 e 1969, coordena a área de Português nos Ginásios Pluricurriculares do Estado de São Paulo. Nos mesmos anos, cursa a pós-graduação em Teoria Literária na USP, sob orientação de Antonio Candido.
Tendo desde 1964 problemas por advogar para presos políticos em Jundiaí, a partir de 1968 a situação começa a piorar. Aconselhado por Antonio Candido, Carlos Franchi deixa a Teoria Literária e segue para Besançon como bolsista ao lado de Haquira Osakabe, Rodolfo Ilari e Carlos Vogt. Juntos, esses integrantes compõem um grupo formado para estudar na França, seguindo um projeto idealizado pelo filósofo Fausto Castilho, que visava organizar a área de Ciências Humanas na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o que englobava também um projeto para a formação de um Departamento de Linguística na Instituição.
Depois de um período na Université de Franche Comté, em Besançon, onde estuda com Jean Peytard e Yves Gentilhomme, licencia-se em Linguística no ano de 1970. Em seguida, tomando um rumo diverso dos outros integrantes do grupo, segue para a Université d'Aix Marseille em Aix-en-Provence, onde estava o amigo Michel Lahud, e estuda com Claire Blanche Benveniste e Gilles-Gaston Granger. Nesse período, através de Jean Stéfanini, entra em contato com os trabalhos de Noam Chomsky. Em 1971, defende sua dissertação de mestrado nessa instituição, sob a orientação de Blanche Benveniste, intitulada "Hypothèses pour une recherche em Syntaxe".
No retorno ao Brasil, Carlos Franchi tem atuação decisiva na implantação do Departamento de Linguística da UNICAMP, tornando-se assistente-mestre e chefe do departamento, cargos que ocupa entre 1971 e 1975. Nessas funções, coordena a Comissão Organizadora dos Cursos de Pós-Graduação em Linguística e dirige a primeira expansão do corpo docente em 1973, momento em que são contratados professores vindos do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 1976, após realizar na Universidade de Tel-Aviv um estágio para pesquisas em Lógica e Linguagem, sob orientação de Marcelo Dascal, Carlos Franchi defende sua tese de doutorado na UNICAMP, intitulada "Teoria Funcional da Linguagem". No ano seguinte, o Departamento de Linguística da UNICAMP desmembra-se do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH - UNICAMP), instalando-se no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL - UNICAMP). Franchi exerce as funções de Diretor Associado do IEL entre 1977 e 1978, durante o mandato do Prof. Antonio Candido. Em 1979, torna-se o Diretor do IEL, exercendo o cargo até 1982, e assume o cargo de Professor Titular até a sua aposentadoria, em 1989.
Nesse período, é presidente da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN), entre 1977 e 1979, ano em que solicita afastamento temporário de suas funções de Diretor do IEL. Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), realiza a atividade de "visiting scholar" junto ao Departamento de Línguas Hispânicas da State University of New York, em Albany (EUA). Entre 1980 e 1981, faz um estágio de pós-doutoramento na Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA).
Posteriormente à aposentadoria na UNICAMP, é pesquisador visitante no Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH - USP) entre 1989 e 2000, e professor convidado na UNICAMP, a partir de 1992. Atua também como professor visitante em várias universidades brasileiras: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade de São Paulo (USP).
Segundo Rodolfo Ilari (2002, p. 85), "A produção científica do Prof. Franchi é altamente informal, tendo preferido a exposição em seminário ao impresso, e o 'working paper' ao livro, mas é ampla e influente. Trata de temas à primeira vista disparatados, como a sintaxe gerativa-transformacional, o ensino de língua materna e a lógica que subjaz às operações linguísticas, mas tem, a unificá-la, as características da densidade crítica e da riqueza da informação bibliográfica, assim como o retorno sempre enriquecedor a motivos que se revelaram profícuos em vários campos da investigação linguística, como a tese da indeterminação das línguas naturais, a tese de sua historicidade e a de que sua construção depende de um trabalho coletivo que compromete com a história as competências simbólicas mais fundamentais do ser humano".
Carlos Franchi falece em 25 de agosto de 2001 na cidade de Campinas, 22 dias após receber o título de Professor Emérito da UNICAMP.