Área de identificação
Código de referência
Título
Data(s)
- 1910-1989 (predominante 1930-1950) (Produção)
Nível de descrição
Fundo
Dimensão e suporte
155 documentos textuais, 22 plantas, 5 mapas, 3 desenhos, 839 fotografias, 110 negativos fotográficos, 7 cópias contato, 52 cartões-postais e 5 tijolos.
Área de contextualização
Nome do produtor
Biografia
Em 1916, o engenheiro e capitalista Luis da Rocha Miranda (1862-1926), filho do Barão de Bananal, adquiriu o latifúndio denominado Lagoa do Sino dos espólios do Brigadeiro Tobias de Aguiar (1794-1857). Com sua morte em 1926, a propriedade, que se localizava no interior do estado de São Paulo, foi dividida entre os filhos de seu segundo casamento: Otávio, Sérgio, Armênio, Osvaldo e Renato da Rocha Miranda. A área que conformou a fazenda Cruzeiro do Sul passou a ser de Sérgio da Rocha Miranda e a que constituiu a fazenda Santa Albertina ficou nas mãos de Oswaldo da Rocha Miranda. A partir de 1958, Renato da Rocha Miranda Filho adquiriu partes das fazendas Cruzeiro do Sul e Santa Albertina e passou a chamá-las de Fazendas Reunidas. A família era uma das mais importantes da elite carioca do início do século XX, sendo proprietária de diversas empresas e companhias industriais e agrícolas tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo. Nas fazendas Cruzeiro do Sul e Santa Albertina, investiam na importação e aprimoramento genético de gado Nelore e cavalos crioulos. As propriedades tiveram intensa atividade nas mãos dos Rocha Miranda - principalmente entre as décadas de 1930 e 1940 - sendo que, a partir da década de 1960, passaram por sucessivos arrendamentos, desapropriações e transferências. Em 1998, ao abordar o tema do nazismo em uma aula de História, Sidney Aguilar Filho soube por parte de uma aluna que na fazenda de sua família foram encontrados diversos tijolos com o símbolo da suástica. A partir dessa informação, o historiador iniciou uma série de visitas às remanescentes instalações da fazenda Cruzeiro do Sul (que datavam das décadas de 1910, 1920 e 1930), bem como entrevistas com antigos empregados e moradores da região. Em suas pesquisas, Sidney descobriu que não só os tijolos eram marcados com o símbolo nazista, mas também o gado que participava de exposições e competições nacionais e documentos administrativos da fazenda. Revelou também que Otávio, Osvaldo e Renato da Rocha Miranda fizeram parte da Câmara dos Quarenta, um dos órgãos superiores da Ação Integralista Brasileira (AIB). Para além da associação da família Rocha Miranda com a ideologia nazista e o movimento integralista, a pesquisa de Sidney trouxe à tona o fato de Osvaldo da Rocha Miranda ter sido responsável pela transferência de 50 meninos com idades entre 9 e 12 anos, 48 deles pretos ou pardos, de um orfanato no Rio de Janeiro para as fazendas da família. A remoção dos meninos teria ocorrido entre 1933 e 1934 e, sob a tutela legal de Osvaldo Rocha Miranda, foram submetidos a rotinas de trabalho sem remuneração, castigos físicos e impedidos de circular livremente. A intensa investigação empreendida pelo historiador resultou em sua tese de doutorado, defendida em 2011 pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Além disso, em 2012, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo (Condephaat) iniciou estudo para o processo de tombamento das antigas instalações da fazenda Cruzeiro do Sul, sob a justificativa de que o referido acervo reúne os únicos registros oficiais probatórios dessa história de violações de direitos humanos, o que foi efetivado em 2015 (Processo de tombamento 74865/2015).
Entidade custodiadora
História do arquivo
O conjunto documental foi reunido em momentos distintos: uma parte foi recebida junto da herança de Manoel das Graças Araújo, então primeiro marido de Dona Senhorinha Barreto da Silva. Tanto a Fazenda Santa Albertina quanto essa documentação tornaram-se espólio da viúva. Outra parte foi encontrada e recolhida do lixo por José Ricardo Maciel ("Tatão'') e Senhorinha Barreto da Silva, quando do falecimento de um antigo dono da Fazenda Cruzeiro do Sul, membro da família Rocha Miranda. A documentação chegou ao AEL por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (SEC-SP). Foi recolhida na cidade de Buri por Mário Augusto Medeiros da Silva e Adda A. P. Ungaretti, então técnicos da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico, e doada por Dona Senhorinha Barreto da Silva. A primeira remessa da documentação chegou nos dias 2 e 3 de julho e a segunda, em 31 de julho, ambas no ano de 2013. Uma organização preliminar foi feita pelas estagiárias do curso de História, Elisielly Falasqui da Silva, Paula Mazzaro Pavan e Renata Dell’Arriva em outubro de 2013, que resultou em um relatório detalhado do conteúdo das caixas e documentos. Em 2015, o acervo foi totalmente organizado e descrito pela Seção de Processamento Técnico do AEL.
Fonte imediata de aquisição ou transferência
Doação de Dona Senhorinha Barreto da Silva em 30 de julho de 2013.
Área de conteúdo e estrutura
Âmbito e conteúdo
O conjunto reúne documentação das fazendas Cruzeiro do Sul, Santa Albertina e Reunidas. A maior parte dos documentos textuais é relativa à Fazenda Cruzeiro do Sul e constitui-se principalmente de documentos contábeis e administrativos. O volume maior dos documentos é de fotografias relativas aos animais e às instalações da fazenda, para as quais houve a necessidade, em sua maioria, de atribuição de datas, locais e títulos pelas catalogadoras. Identificam-se ainda documentos das fazendas Santa Albertina e Reunidas em pequena quantidade. De modo geral, a documentação é escassa e bastante lacunar. No entanto, a importância do conjunto baseia-se justamente naqueles itens que revelam a presença de simpatizantes da ideologia nazista em território nacional, especificamente entre importantes figuras da elite financeira e industrial da primeira metade do século XX. Entre os documentos de maior destaque, encontram-se uma fotografia em que se observa um grupo de pessoas com o uniforme integralista (FT/00094), um certificado de pedigree animal com uma suástica na parte superior (FCSSAR FCS s.003 doc.001), fotografias em que o símbolo nazista também aparece em uma bandeira e no gado da fazenda (FT/00471; FT/00486-FT/00501; CP/00948), alguns exemplares dos tijolos de antigas construções da fazenda Cruzeiro do Sul que contém a suástica estampada no centro, além do documento de registro do Núcleo Escolar da Fazenda Santa Albertina (datado de 1932), local em que os meninos órfãos receberiam o ensino primário, mas que pouco frequentaram (FCSSAR FSA s.003 doc.001).
Avaliação, seleção e eliminação
Ingressos adicionais
Não são esperadas novas incorporações.
Sistema de arranjo
O conjunto documental foi organizado em três grupos: 1) Fazenda Cruzeiro do Sul, 2) Fazenda Santa Albertina e 3) Fazendas Reunidas, com suas respectivas séries. O conjunto também agrega documentos anexos como cartões-postais, desenhos, fotografias, mapas, plantas e objetos tridimensionais.
Área de condições de acesso e uso
Condições de acesso
Consulta livre.
Condiçoes de reprodução
É permitida a reprodução (cópia parcial ou integral) dos documentos do acervo do AEL mediante a assinatura do termo de responsabilidade. No caso de uso de direitos autorais e de imagem consulte a LDA - n. 9.610/98 e outras legislações pertinentes.
Idioma do material
- espanhol
- inglês
- português do Brasil
Script do material
Notas ao idioma e script
Características físicas e requisitos técnicos
Documentos digitalizados ou microfilmados devem preferencialmente ser acessados através de suas cópias a fim de preservar os originais.
Instrumentos de descrição
Área de materiais associados
Existência e localização de originais
Acervo: Sala 1 (fotografias) e Sala 4 (textuais)
Existência e localização de cópias
Reproduções digitais dessa documentação estão disponíveis no repositório local do AEL.
Unidades de descrição relacionadas
Nota de publicação
AGUILAR FILHO, Sidney. Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945). Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, 2011. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/251194. Acesso em: 21 jan. 2021.
Área de notas
Identificador(es) alternativos
Pontos de acesso
Pontos de acesso de assunto
Pontos de acesso local
Ponto de acesso nome
Pontos de acesso de gênero
Área de controle da descrição
Identificador da descrição
Identificador da entidade custodiadora
Regras ou convenções utilizadas
Descrição baseada em: Descrição baseada em: CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS (CIA). ISAD (G): Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2001.
Estado atual
Nível de detalhamento
Datas de criação, revisão, eliminação
14/07/2015 (criação)
Idioma(s)
Sistema(s) de escrita(s)
Fontes
Nota do arquivista
Conjunto documental organizado por Lívia Cristina Corrêa, Maria Dutra de Lima, Marilza Aparecida da Silva e Tainá Guimarães Paschoal. Descrição arquivística elaborada por Lívia Cristina Corrêa, Maria Dutra de Lima e Tainá Guimarães Paschoal.